segunda-feira, 2 de março de 2015

PÁGINAS

Não estamos mais na mesma página. Não sei se algum dia estivemos. Por momentos pensei que sim. Pensei que tinhas agarrado a minha mão, tínhamos pegado numa caneta e só se podia ainda ler "Era uma vez...". A página branca, simples. A página em que me abraçavas para que eu não tivesse frio durante a noite; me olhavas nos olhos para tentar perceber se estava em paz ou se a minha cabeça estava o típico turbilhão. Contigo estava quase sempre em paz. Eras o lugar seguro. A página em que eu te acordava com um beijo e tu só querias ficar na cama mais um bocadinho. Pensava não haver preguiçoso mais preguiçoso que eu, mas tu batias-me aos pontos. E lembraste de lermos aquele livro juntos? Foi quase que o nosso primeiro encontro. Perfeito. Sincero.
Mas não estávamos na mesma página. Quem desconfiaria?
Sabes, até hoje deixei a minha mão agarrada à caneta e pousada em cima da página branca onde só se podia ainda ler "Era uma vez...". Mesmo sem ti, eu deixei lá a minha mão, com a tinta da caneta a secar, na esperança que voltasses a agarrá-la. Talvez ainda tenha esperança que o faças, mas não quero mais. Por agora não quero mais. Não consigo pensar na hipótese de me deixares sozinha de novo, sem nada para escrever. Muitos menos consigo pensar noutra mão que não a tua a escrever comigo. Não faz sentido, é o teu lugar. Ou o lugar de ninguém. Apenas é inconcebível dá-lho, ou até emprestá-lo. É inconcebível hoje, amanhã não sei. E depois? Vens reclamá-lo quando já nada puderes fazer? Não sei. Nem tu sabes.



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